Maximize os insights de pesquisas organizacionais com People Analytics

Share
Tempo de leitura: 8 minutos

Embora possa espantar alguns, o censo – levantamento estatístico que tem como objetivo coletar informações detalhadas sobre uma população e período específicos – é um método que de novo nada possui, tendo em vista que sua primeira aplicação foi documentada no Antigo Egito há mais de 2.500 anos a.C.

Desde então, ao longo da história, várias sociedades realizaram censos e outras pesquisas em larga escala para coletar informações demográficas, econômicas e sociais sobre suas populações. Cada cultura e período histórico desenvolveu seus próprios métodos e técnicas para conduzir essas pesquisas, atendendo às necessidades específicas de suas respectivas épocas.

O que os egípcios descobriram (e que hoje podemos categoricamente afirmar) é que sob as condições, técnicas e metologias corretas, podemos converter ideias e conceitos abstratos em coisas objetivas e palpáveis.

Com uma abordagem da perspectiva de People Analytics, este artigo propõe uma sumarização de algumas técnicas empregadas para maximizar a eficácia das pesquisas organizacionais. Destacaremos dicas e estratégias específicas destinadas a extrair o máximo possível de insights. Ao fazer isso, não apenas abrimos o caminho para uma compreensão mais precisa dos desafios e oportunidades enfrentados pelas companhias, mas também agimos como bastiões da tomada de decisão baseada em dados com foco no negócio.

Pesquisa qualitativa ou quantitativa? Binóculo!

Ao aplicar qualquer pesquisa, as abordagens escolhidas devem ser realizadas de forma sistemática, uma vez que a trilha para responder problemas de negócio demanda, invariavelmente, dados precisos e confiáveis. Neste sentido, será comum se deparar com conceitos – que, para fins alegóricos, chamaremos de “lentes” – de cunho qualitativo e quantitativo.

A lente qualitativa é como uma lupa que permite examinar minuciosamente cada detalhe e textura. Ela nos ajuda a compreender as histórias e experiências individuais dos colaboradores, muitas vezes revelando nuances que podem passar despercebidas em uma visão mais abrangente. É como ouvir as vozes individuais em uma sala cheia de pessoas, capturando as percepções e sentimentos únicos de cada um.

Em contrapartida, a lente quantitativa é como um telescópio, nos permitindo observar um panorama mais amplo e extenso. Ela nos fornece números e métricas concretas e objetivas, podendo ser comparadas e analisadas em larga escala. É como observar toda uma constelação, identificando padrões e relações entre os pontos luminosos no céu.

Já a combinação dessas lentes é como um belíssimo binóculo. Com a lente qualitativa, podemos identificar detalhes importantes e entender as motivações por trás das ações e sentimentos dos colaboradores. Com a lente quantitativa, podemos obter uma visão panorâmica e estatisticamente significativa do quadro geral da companhia.

Dito isso, qual o melhor método de pesquisa? Não podemos afirmar. Escolher o método correto está diretamente ligado ao problema de negócio que se pretende resolver. É comum encontrarmos a junção das duas (quali-quanti), pois oferecem uma visão holística do cenário, muitas vezes nos ajudando a tomar decisões de forma mais assertiva.

A construção é tão importante quanto a aplicação

Pesquisas mal formuladas e executadas podem acarretar diversos problemas que comprometem o alcance de objetivos preestabelecidos, além de causar fadiga e minar a confiança e engajamento do colaborador. Alguns destes problemas incluem:

⚠️ Ambiguidade

Perguntas com duplo sentido ou que abordam múltiplos conceitos podem induzir o colaborador a respostas inconsistentes e, não raramente, induz viés aos resultados. Avalie as perguntas levando em consideração quatro pilares: importância, concisão, clareza e foco.

⚠️ Escalas inapropriadas

Escalas mal formuladas tendem a trazer problemas de interpretação por parte do respondente, impactam em perda de precisão e, no pior dos casos, invalidam a pesquisa, tornando-a em uma coleta de dados inútil e ineficaz. Na maioria das vezes, é recomendado seguir o caminho simples utilizando escalas já consolidadas (por exemplo, Thurstone e Likert).

⚠️ Vocabulário complexo

Muito comum em pesquisas de grande escala, palavras e frases muito sofisticadas podem trazer confusão ao colaborador. Modele as perguntas de acordo com o seu público e, se necessário, utilize um vocabulário casual para que o respondente se sinta familiarizado com o que está lendo.

⚠️ Duração excessiva

Pesquisas “intermináveis” são mais vulneráveis ao baixo engajamento. Limite seu escopo ao necessário, evite redundâncias e tenha os objetivos claros desde o começo. Mas lembre-se: a taxa de resposta (percentual de pessoas que responderam a pesquisa) não é necessariamente afetada pelo número de perguntas.

Impulsione o engajamento com boas práticas

Elaborar uma pesquisa de qualidade é apenas o primeiro passo para alcançar alto engajamento e obter feedback significativo dos colaboradores. Após a criação e distribuição da pesquisa, é essencial considerar fatores cruciais para garantir um taxa de resposta invejável:

✔️ Comunique de forma assertiva

Uma comunicação de alta qualidade tem o poder de utilizar diversas plataformas, ferramentas e meios de abordagem para penetrar todas as camadas da organização, destacando-se pelo foco em “toques e charmes” que capturam a atenção dos colaboradores, instigando seu interesse e despertando curiosidade sobre o assunto em questão.

✔️ Use lembretes inteligentes

Um convite apenas não é suficiente. Aqui vai uma pergunta: entre responder uma pesquisa da área X e finalizar uma demanda que está quase no fim do prazo, qual escolheríamos?

Aplique questionamentos semelhantes às diferentes realidades dos colaboradores. Utilize uma rotina programada de lembretes levando em consideração pontos chave, como horários de pico de trabalho, plataformas de comunicação com maior engajamento e perfis dos colaboradores.

✔️ Peça ajuda a seus aliados

Gestores e parceiros de negócio são umas das principais chaves para furar a bolha e aumentar o engajamento dos colaboradores. Seus aliados podem exercer influência, contextualização e fomentar a participação, principalmente nas camadas mais operacionais do negócio.

✔️ Exalte a confidencialidade

Muitas pesquisas – principalmente quando oriundas do RH – têm baixo engajamento ou respostas que não refletem a verdadeira opinião do colaborador por medo de represálias, sejam elas da gestão direta ou do próprio RH. Dê ênfase na confidencialidade das respostas e tome medidas que possam assegurar o respondente de que suas respostas serão, de fato, confidenciais e analisadas com discrição.

Ponto importante: quando o sentimento de confiança dos colaboradores está desgastado a longo prazo, o alto engajamento raramente é alcançado no curto prazo.

✔️ Crie estratégias para públicos específicos

Além do uso de lembretes inteligentes, analise a evolução de sua taxa de respostas por dimensões que possam fornecer insights interessantes.

Por exemplo, identifique as principais áreas ou cargos que necessitam de maior atenção e crie companhas complementares específicas para esses grupos.

Temos os dados… e agora?

A pesquisa foi criada, compartilhada, o engajamento foi alto e, após tudo isso, temos a base de dados da pesquisa. Quais são os próximos passos? Aqui estão algumas ações com o potencial de maximizar os insights provenientes dos dados da pesquisa:

📝 Crie um plano de análise de dados end-to-end

Com base nos objetivos e metas estabelecidos antes mesmo da criação da pesquisa, é altamente recomendado criar um plano de análise de dados do início ao fim com o intuito de estruturar a forma com os dados serão analisados, definição de métodos, metodologias e procedimentos de verificação. É interessante que as recomendações que serão citadas a seguir também estejam no seu plano de análise.

📝 Análise com base de dados suja: o oitavo pecado capital

Este é um consenso na área de dados: não trabalhe com bases de dados poluídas. Uma base de dados que não passou por um processo de limpeza traz consigo inúmeros problemas: baixa qualidade dos dados, impacto em confiabilidade e, no pior dos casos, decisões tomadas erroneamente por dados que não refletem a realidade. Trate outliers, dados faltantes, inconsistências e duplicações indejadas antes de tomar quaisquer ações.

📝 Use e abuse da análise exploratória

A análise exploratória de dados (AED) é crucial para identificar padrões, insights preliminares e tendências escancaradas. Nessa fase, é comum utilizar técnicas da estatística descritiva para resumir os dados da pesquisa em conjunto de ferramentas de análise e visualização – sendo as mais comuns Python, Power BI, Tableau e Excel.

📝 Crie métricas e indicadores

Se necessário e dentro dos planos iniciais da pesquisa, crie métricas e indicadores relacionados a subtemas importantes da pesquisa. Assim, será possível monitorar avanços ou regressões que serão balizadores para futuros planos de ação.

📝 Tenha algo com o que comparar

Outra pergunta: ao considerarmos uma pesquisa de clima com pontuação de 75 em uma escala que a pontuação mínima é 0 (zero) e a máxima é 100, podemos dizer que a pontação é boa ou ruim? A resposta é: depende!

Nesse sentido, o benchmarking é uma ferramenta super bem-vinda, pois parte de um ponto lógico ao comparar como empresas de mesmo seguimento estão desempenhando em temas semelhantes.

📝 O micro também tem o seu valor

Ressaltando o que foi dito no começo deste artigo: não fique necessariamente preso às análises exploratórias ou cenários de lente quantitativa. Uma base de dados de pesquisa pode se tornar um verdadeiro parque de diversões e, algumas vezes, os melhores insights surgem de problemas locais que não são vistos no panorama geral.

  • 6 de abril de 2024